Matéria completa do U2 na Q Magazine nº351 que esta a venda nesta terça-feira, 25 de Agosto. Bono, Edge, Adam e Larry falam tudo o que viveram desde o lançamento de No Line On The Horizon até a atual turnê iNNOCENCE + eXPERIENCE. Os erros cometidos, experiências pessoais ruins e as novas canções que estão vindo.
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Onde a Magia Acontece
Nos bastidores, no seu santuário interno. Este é o lugar onde esquecem que você baixou seu álbum gratuitamente no iTunes sem permissão, o acidente de bicicleta de Bono, toda a negatividade dos últimos 18 meses. É o U2 em seu elemento: em turnê, em um relacionamento com uma legião de devotos.
Dorian Lynskey sobe no caminhão de viagens entre Boston e Nova York para descobrir onde se encontram suas mentes.
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Terça-feira em Boston. O terceiro de quatro concertos de U2 no TD Garden. People Have The Power de Patti Smith começa a tocar cada vez mais alto através dos alto-falantes. 20.000 fãs ansiosos se levantam e Bono entra na arena. A poucos passos atrás dele está a Q e a visão é deslumbrante. Instantaneamente, rostos entusiasmados se viram para ele como mariposas para uma chama. Sobe no pequeno palco em forma de "e", levanta o punho, canta a introdução "Oh oh oh ohhh" de The Miracle (Of Joey Ramone) e desfila pela passarela para se juntar à The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen no palco "I". Começa a 28° noite de shows da turnê iNNOCENCE + eXPERIENCE.
Mais tarde, Bono diz a Q Magazine que escolheu a música de Patti Smith para lhe dar coragem. "Eu tenho que encontrar essa parte de mim e não a tenho até que saio do palco. Como se chama aquela pessoa que tem pombos escondidos em suas mangas e quando eles saem ela fica completamente surpreendida? Um mágico!". "Você sabe que você colocou lá, mas é incrível quando eles saem voando".
O palco é onde o U2 se torna suas próprias mangas. Eles podem entreter em um estádio, mas em uma arena eles encantam. Se um verdadeiro encantador pode te fazer sentir a única pessoa no lugar, então, Bono pode fazer Boston se sentir a única cidade do mundo. Graças a concertos como este, a turnê de iNNOCENCE + eXPERIENCE esgotou todos os seus ingressos em 2015. Se voltará em 2016, ainda não há nada garantido.
"Eu sabia que o show seria ótimo", diz o diretor de criação Willie Williams. "Mas nos últimos dois anos do U2, é como se alguém tivesse feito Voodoo. É como se enfrentassem uma maldição".
Quatro anos atrás, o U2 falou com a Q sobre um recomeço. Embora a turnê 360°, em estádios, tenha gerado o maior lucro da história (mais de 736 milhões de dólares), tenha sofrido grandes reveses. O obscuro e insatisfatório álbum No Line On The Horizon, de 2009, a perigosa lesão nas costas de Bono que impediu que a banda tocasse no Glastonbury em 2010, um fraco desempenho quando eles finalmente apareceram no festival em 2011, causado pelo mau tempo e caos técnico e o fracasso de alto custo do musical 'Spider-Man: Turn Off The Dark' em que Bono e The Edge escreveram as canções da trilha sonora.
Songs Of Innocence, seu melhor álbum em muitos anos, deveria ter sido o renascimento, mas ele foi ofuscado em setembro passado pela sua estratégia de lançamento: colocados, sem aviso prévio, em 500 milhões de contas no iClouds. Sua primeira grande manobra sem seu primeiro empresário e mentor, Paul McGuinness, foi um desastre de relações públicas que impulsionaram as críticas ao U2. Dois meses depois, Bono teve um acidente grave de bicicleta no Central Park, que precisou de cinco horas de cirurgia de emergência, atrasou a turnê e interrompeu toda a promoção do álbum. Assim, o U2 começou sua turnê em Vancouver em maio com tudo a provar.
Perguntei a Bono se acredita em má sorte. "Não acredito em sorte", disse. "Eu passo por baixo de escadas. Teria um 13 tatuado nas minhas costas sem qualquer problema. Mas acreditamos que o universo pode tornar-se frio e desagradável. Eu nunca fico surpreso quando o mundo se torna um pouco feio. Não fico surpreso quando o U2 encontra resistência".
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Terça à tarde
O U2 faz a passagem de som no palco "e". Eles estão ensaiando The Crystal Ballroom, uma canção extra de Songs Of Innocence. Ainda não estão muito firmes em relação à ela. "Não tocamos ela bem a primeira vez", diz Bono alegremente. "Parece que vamos tocar errado duas vezes".
O U2 tocou 43 músicas diferentes nesta turnê. As músicas vêm e vão, como se encaixam na narrativa central da Inocência (a Dublin dos anos 70) e da Experiência (o mundo). Depois de considerar dois setlists completamente diferentes em noites alternadas, concordaram que seria um para contar toda a história - um, disse Adam Clayton, "de lealdade, perseverança ou simplesmente não se render."
O U2 é grande em lealdade. Willie Williams, o conselheiro Gavin Friday, o designer de som Joe O'Herlihy, o promotor Arthur Fogel, a estilista Sharon Blankson e Stefaan "Smasher" Desmedt, o diretor de vídeo, todos tem estado ao redor da banda entre 20 e 40 anos. Bono, que todos chamam de "B", precisa se cercar com amigos inteligente e talentosos e não meros empregados. "Eu sou de relações horizontais, não verticais", diz. "Isso é o motivo de eu estar em uma banda. Por isso estou casado. Por isso que eu não gostaria de ser chamado de chefe".
A turnê foi preparada desde o início de 2013, mas a semente foi plantada ainda antes. Gavin Friday se recorda de Bono dizendo na noite de abertura da turnê 360°, que a próxima deveria ser mais íntima. Os lugares são menores desta vez - precisando de quatro shows em uma arena para igualar a capacidade de um concerto no estádio, mas as ideias são enormes. Inovações de última geração, incluindo uma tela de LED gigante ao longo de uma passagem estreita que atravessa o público dos dois lados, efetivamente tornando toda a faixa da arena em um cenário.
A tecnologia permitiu que Joe O'Herlihy colocasse alto-falantes no teto de forma oval, fazendo que o som fosse distribuído de maneira igual e potente em toda a arena, e nunca havia sido utilizada antes.
Apesar da tecnologia impressionante, cada turnê é basicamente um teste do novo álbum. Songs Of Innocence, ao contrário de seu antecessor, está aguentando muito bem. "Não pudemos escutar Songs Of Innocence adequadamente na fase promocional do álbum", disse Gavin Friday durante uma pausa para um cigarro. "Eu disse para Bono que o tratamento foi maior do que a música, então tudo o que você pode fazer agora é tornar a música mais do que tudo". Então, a turnê tem sentido do passado e presente do U2. Seu futuro, no entanto, é mais complicado.
Terça-feira, meia-noite.
Uma discreta festa pós show no Lounge do Ritz-Carlton Club. A cantora Amanda Palmer come sushi com uma amiga, a atriz Kristen Wiig, em um canto, conversa com amigos e Mike Love, do The Beach Boys, conversa com Larry Mullen. The Edge, o diplomata do U2 com voz suave, relaxa após o anoitecer. Seu entusiamo após um show é contagioso.
"No final você está tocando algo que entende completamente", diz The Edge enquanto toma um gole de cerveja. "No estúdio muitas vezes você toca algo que você só entende pela metade". Eles nunca haviam antes tocado a ordem do concerto da noite passada. "Nós não gostamos de sentir que as coisas são pré determinadas. Precisamos reintroduzir isso ao reino do desconhecido. É aquela pequena parte do rock'n'roll que é semelhante ao teatro improvisado ou jazz, onde você não sabe bem o que vai acontecer". Ele pensa um pouco e: "Não acredito que comparei o grupo ao jazz. A única semelhança é que há um elemento de risco".
Às vezes o risco é um pouco maior. Durante a noite de abertura da turnê, The Edge calculou mal o tamanho do palco e deu um passo falso. O vídeo no Youtube da queda causou muitos risos na rede, mas foi um momento desconcertante. Ele caiu a apenas alguns centímetros além do ferro do trilho das câmeras, onde poderia ter se ferido seriamente e acabado com a turnê. "No dia seguinte, eu olhei e pensei... ufa, na verdade eu tive sorte. Eu poderia ter tido danos terríveis".
Duas semanas mais tarde, o U2 sofreu uma perda real quando Dennis Sheehan, seu gerente de turnê desde 1982, sofreu um ataque cardíaco fatal. "Temos saudades dele mais como pessoa, do que como gerente de turnê", diz Edge. "Não era o que ele fazia, era o que o tornava tão único. Temos a tendência de juntar pessoas que têm essa ideia".
Parte do apelo do U2 no palco é a história de amor deles quatro, ainda forte depois de 39 anos. Suas personalidades são tão fortes e diferentes que é impossível imaginar a banda sem um deles. Em Nova York no sábado, Bono chamou o U2 de "uma banda de iguais com um público de iguais". Antes de cada concerto, eles passam alguns minutos juntos conversando, rezando, pensando sobre o que vão fazer.
"Acho que nos constituímos como uma banda real desde o início", reflete The Edge. "Acho que os Beatles tiveram um tempo difícil, porque havia basicamente três líderes. Cada um estava competindo para ser o líder da banda. Nós fazemos contribuições seletivas para que não haja sobreposição. É a ideia de que não existe vitória individual. É o grupo que ganha".
O espaço entre o U2 ao vivo - urgente, instintivo, temerário, e o U2 de estúdio - neurótico, lento, desconfiado - se personifica em The Edge. Gavin Friday diz: "The Edge vai passar um ano no som da guitarra onde Bono quer escrever 10 álbuns ao mesmo tempo". Mas o guitarrista no palco abraça a imprevisibilidade. Um dos destaques da turnê teve lugar em Montreal, onde Bono espontaneamente convidou dezenas de fãs no palco durante Where The Streets Have No Name, sem perceber que a estrutura só foi projetada para suportar o peso de oito pessoas. "Quase acaba terrivelmente mal", disse Edge. "Mas foi um momento mágico do concerto".
Terça-feira
TD Garden. Bono convida uma vocalista e guitarrista local chamada Gretchen Shae no palco "e" para tocar violão em All I Want Is You. Adam Clayton e The Edge se aproximam calmamente para ensinarem os acordes. A possibilidade de um desacerto faz a canção duplamente poderosa quando funciona. Bono admira artistas como Iggy Pop e o ator Mark Rylance porque "não estão confortáveis com a distância entre o palco e o público. Lá é onde vivemos".
Quando Bono ajuda Shae a descer do palco após a canção, ele percebe o slogan de sua camiseta: “STAND UP TO ROCK STARS” (Levante-se para as estrelas do rock). Ele sorri. "Eu gosto de sua camiseta. Eu sou a favor disso!".
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Quarta-feira, hora do almoço
Quarto de Adam Clayton no Ritz-Carlton. Na década de 90, a pressão da turnê Zoo TV converteu Adam em um viciado em auto-aversão. Vinte anos mais tarde, ele é sóbrio e emana tranquilidade e sabedoria. Sorri muito, dentro e fora do palco, como se a vida fosse uma série de surpresas agradáveis.
O cabelo de Clayton tem crescido como uma réplica prateada de sua época punk, levando todas as noites para o palco uma camisa diferente de bandas que inspiraram o U2. No show de hoje, Blondie. "Eu estava colocando esta camiseta hoje e pensando ao mesmo tempo como o Blondie foi grande. Eles tiveram seu momento. A fama é uma coisa extraordinária que aterriza em algumas pessoas em um ponto, encorajando-o ao pousar em você, e no final do dia, quanto tempo permanecerá é algo completamente efêmero. Você tem que saber quando se foi".
Clayton é friamente crítico de si mesmo ("minha filosofia é que se pode contar até quatro, pode tocar qualquer linha de baixo do U2″) e aparentemente sereno. Mesmo assim, o U2 agora é muito menos otimista do acordo com a Apple. "Eu sempre esperei que teria alguma resposta negativa", disse. "O que não esperava era que as pessoas mostrassem tão pouco interesse nas músicas. Pareceu que éramos os caras malvados que colocaram o álbum nos celulares das pessoas e isso nos colocou na defensiva". Mas ele admite que o presente finalmente deu resultado. Em seu primeiro mês, um total de 26 milhões de downloads até o momento, superaram as vendas de The Joshua Tree. "Conseguimos alcançar um público de pessoas mais jovens, que conhecem aquelas canções e que não conhecem as antigas. Não é o que se poderia esperar".
Para continuar a atrair novos fãs, depois de tanto tempo, que é uma façanha em linha com a missão incansável do U2 de jogar seus braços ao redor do mundo, mas Adam pode imaginar algo diferente no futuro. "Já tivemos esse momento de fama e nós detemos ela de uma certa maneira", diz, retomando a sua teoria do Blondie. "Mas pode haver um momento para dizer que vamos viver com o pouco que temos e deixar de colocar a mão em outras pitadas".
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Quarta à noite
Nos bastidores do TD Garden, deixado mais aconchegante com cortinas vermelhas e velas. Recém saído de sua sessão de fisioterapia pré-show, Larry Mullen Jr. ("para se certificar de que eu realmente não vá desmoronar") mexe com um palito de dente no momento que narra sua conversa com Mike Love na noite anterior.
"Ele olhava para mim como se tivesse duas cabeças", diz. "De verdade? Realmente você gastou todo esse dinheiro neste show? Você realmente se preocupa tanto? Por quê?" É muita pressão, mas não posso imaginar fazendo isso, se não fosse um desafio. O que te move é a vulnerabilidade".
Quatro dias antes do show de abertura, Larry Mullen recebeu a notícia de que seu pai havia morrido. Ele voou para a Irlanda para o funeral na quarta-feira e estava no palco em Vancouver na noite de quinta-feira. "Eu havia prometido há anos que eu o enterraria", diz. "Me senti muito aliviado de ter cumprido minha promessa, mas também muito aliviado em retornar ao lugar onde sempre estive, que é na banda".
Larry é conhecido como a voz sincera na prudência do U2. Isso faz dele um otimista imprudente pelos padrões da maioria das bandas. O U2 se sente forçado a assumir riscos ousados (e caros) - mas agora, admite Larry, eles tinham grandes reservas pelo acordo com a Apple. "Se eu me senti desconfortável com isso? Sim, algumas vezes. Então eu me senti especialmente desconfortável. É o que é". Mas, continua, "de repente o barco sai do banco de areia. Flutuamos novamente. Há músicas que são tão boas como pensávamos que elas seriam".
Porém Mullen ainda demonstra irritação com POP e No Line On The Horizon. "Fracasso. Calculamos errado onde estávamos e fizemos". Até mesmo Songs Of Innocence o incomodou um pouco. "Gastamos tanto tempo com ele, que há partes nele que passaram do ponto. Duvidamos de nós mesmos. Duvidamos das músicas. O que digo é que realmente não estávamos seguros de nossa capacidade".
Larry tem uma solução. Ele está fascinado com a teoria, popularizada pelo livro Outliers de Malcolm Gladwell, que grandeza requer aproximadamente 10.000 horas de prática. Os Beatles tiveram essa aprendizagem em Hamburgo. O jovem U2 não. Então aqui está o plano: "quando acabar essa turnê, devemos começar uma viagem para aprender como tocar músicas de outras pessoas, como diversão, e depois voltar e gravar um álbum com o que você aprendeu. Apenas como um experimento. Retornar para clubes onde realmente nós fizemos besteiras - e fazer direito. Nós realmente precisamos voltar. Como Benjamin Button. Ou seja, pode ser o fim da banda (risos), mas seria tão legal".
Aconteça o que acontecer, algo tem que mudar. "Aprendemos", ele disse firmemente. "Nunca mais vamos passar quatro anos e meio escrevendo e gravando um álbum. Esses dias acabaram."
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Quarta-feira, meia-noite
Aeroporto em New Bedford, Massachusetts. Um comboio de transportadores do U2 e a equipe chave da turnê se dividem em um par de jatos particulares com o logotipo da iNNOCENCE + eXPERIENCE. A bordo, bandejas de alimentos e bebidas cuidadosamente organizadas para o voo de meia hora para Nova York.
Joe O'Herlihy - metade Rick Rubin, metade Papai Noel - se senta e descreve a primeira vez que ele viu o U2. Foi em 1978. Eles foram a quinta banda a se apresentar em um concerto no Instituto em Cork. "Basicamente não sabiam como tocar seus instrumentos, mas foi extraordinário. Me lembro de Bono conversando com quatro gatos que estavam no local. Ele estava convencido que eles iriam ouvi-lo. Isso me fez entender o que estava por vir".
Quinta-feira, hora de comer
Um resort na costa de Montauk, Long Island. O restaurante favorito de Bono está fechado, então sentamos em umas cadeiras de praia, comendo sanduíches e bebendo um rosado sob um céu azul claro. Sua família alugou uma casa em Hamptons durante os shows do U2 no Madison Square Garden. A banda tentou fazer isso durante a turnê The Joshua Tree, mas era outono, final da temporada e um desastre. "Deixar 70.000 pessoas aos gritos e chegar nesta silenciosa periferia arenosa. Ah!".
Bono gosta de cidades e discussões e locais cheios de ruído e pessoas. Ele tem uma energia impulsiva e incomum para um homem de 55 anos de idade. Tenho certeza de que uma parte dele acredita que ele pode negociar com a própria morte, mas o acidente obviamente o chocou.
"Ali (esposa de Bono) diz: 'Você pode captar a indireta?'", diz o cantor, balançando seu copo de vinho. "Ela me disse: Você conduz a vida como se dirige um tanque'. E é verdade. The Edge diz que considero meu corpo como uma inconveniência. Acho que isso tem que parar".
Quando estava em Boston, ele visitou o Dr. Steven Zeitels, famoso cirurgião de garganta que operou Adele e Roger Daltrey. Ele admitiu à Zeitels que não passou por uma consulta em 12 anos. "Ele me disse: sua vida não depende disto? Não acha que é um pouco estranho?". Eu respondi: "Sim, talvez seja um pouco estranho. Eu vou mudar".
O primeiro susto na saúde de Bono aconteceu no final da década de 90, quando acreditava que ele tinha câncer na garganta. Sem uma cirurgia imediata, sua lesão nas costas em 2010 poderia ter danificado sua espinha para sempre. "Eu quase fiquei paralítico. Foi por pouco". Seu acidente de bicicleta em novembro passado levou a múltiplas fraturas no rosto, braço, ombro e mão esquerda. Ele me mostrou sua mão. Dois dedos ainda estão paralisados e não esticam, o que significa que ele pode nunca mais tocar guitarra. "Me parece bom", disse antes de rir. "Tenho vergonha de falar sobre isso. É chato se você gosta de tocar guitarra."
O acidente deixou o U2 em seis meses de silêncio na pior hora possível. "Uma estrela de rock ferida é a morte de um caixeiro viajante", diz Bono enquanto come seu sanduíche. "Foi brutal para mim. Tanto quanto o prejuízo. Dar as pessoas um presente gratuito, é difícil fazer de forma errada. Mas nós poderíamos ter explicado a intenção por trás e não o fizemos. Foi um grande erro".
Bono gosta de ridicularizá-lo, mas é um protetor do U2 com unhas e dentes: das pessoas, da entidade. Songs Of Innocence é como a banda superou uma vida perturbada e cheia de fúria na adolescência. "Você estava só, agora já não está sozinho", canta em "Volcano". "Acho que a banda é realmente uma coisa muito especial, e estamos assumindo riscos maiores do que assumiria alguém com um cérebro", diz. "Acho que nós somos sem dúvida a banda mais interessante, podem nos amar ou nos odiar, e eu realmente acho que seria uma pena se não estivéssemos aqui".
Você concorda com Adam Clayton que o U2 poderia ser menor? Sem perseguir a máxima relevância e buscar hits de rádios, mas feliz em seu nicho considerável e bem decorado?
"Acho que é uma pergunta justa", responde. "As pessoas dizem: 'porque não são como Neil Young e o Radiohead e sua intimidade? Porque não são mais privados, do que publicamente ambiciosos?' E temos de olhar para isso. Eu tenho algumas perguntas básicas. Tocamos em estádios durante 30 anos. Um pouco louco isso. É como estar no Arsenal em 1985 e seguir para a Liga dos Campeões agora, com a mesma equipe! Mas, em seguida, pegue a dica do universo que nos diz que isso tem um preço. Isso é revivido. Mas espero ouvir essas músicas novas! Eles não querem ser privadas".
A única "coisa boa" do acidente de bicicleta foi que Bono teve tempo para escrever canções. Ele está tão animado com as músicas, que ofereceu para a Q ouvir algumas delas. As faixas tocam de seu telefone celular, e são sons vibrantes e atraentes, especialmente Civilisation, Instrument Flying e The Little Things That Give You Away. Uma demo acústica, chamada de Much More Better, é sobre seu acidente. Ele canta 'I only sing to prove that I'm here'.
Você acredita mesmo que uma grande canção pode fazer algo? "Ele acredita mesmo nisso", diz Bono, soltando os braços, como faz no palco, como um abraço ou uma rendição. "A capacidade das canções para separar um casamento ruim ou manter unido um bom, de ser rejeitada em um pub, para levá-lo em uma aventura, para lhe dizer o que fazer, como se vestir, como se comportar, está tudo lá. Há vida inteligente".
É verdadeiramente surreal de ver um homem comandando uma legião de fãs uma noite e depois, no dia seguinte, vê-lo cantar canções a poucos centímetros de distância, com bateria imaginária. Aqui, no TD Garden, a fé de Bono no U2 é inebriante. Arregace suas mangas e os pombos sairão voando.
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