O apresentador português da Rádio Comercial, Pedro Ribeiro encontrou-se há alguns dias com a banda irlandesa, nos estúdios Metropolis, em Londres, em duas conversas separadas: Bono e o baterista Larry Mullen Jr. e posteriormente o mago da guitarra, The Edge, e o ‘jazzman’ do baixo, Adam Clayton. Nesta entrevista, a banda tem uma certeza: regressaram às grandes canções no novo álbum, "Songs of Innocence".
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[Parte 1]
Se me perguntassem se queria o novo álbum dos U2 de graça no meu iPhone, diria logo que ‘sim, por favor'. Acharam estranha esta polêmica?
Adam Clayton - Era um grupo muito pequeno de pessoas. Percebemos que para uma pequena minoria, pode ser muito irritante. Mas vendo bem as coisas, é música de graça, qual é o problema com isso? Quando tivemos a ideia de lançar o disco digitalmente, discutimos a forma como seríamos pagos. Quando fomos ter com os nossos amigos da Apple, disseram-nos que comprariam o disco à editora, o que a deixou muito feliz.
Bono - ‘Seria fantástico darmos um brinde (aos fãs)'. E o Tim Cook (CEO da Apple) nos perguntou: 'O quê, vão dar a eles uma canção?'. E nós o respondemos: 'não, um álbum inteiro' (risos). 'Vocês vão oferecer-lhes um álbum inteiro de graça?'. 'Não, nós queremos é que vocês nos comprem o disco e lhes ofereçam de graça'. 'Uau', e ele ficou a pensar. Eles ficaram com o disco durante um mês e pagaram-nos uma pequena quantia. Não fizemos o álbum de graça.
Porque teriam que fazer o álbum de graça? É o emprego de vocês.
Bono - Os músicos merecem ser pagos. Não precisamos ser pagos porque temos tido uma vida muito abençoada, o nosso público tem nos permitido isso. Continuamos a merecer ser pagos já que somos nós a compor as canções. Podem dizer-nos: ‘ah, mas vocês podem vender t-shirts e fazer turnês. Pensemos nos compositores de canções: o Cole Porter não vendia camisetas e não podia fazer turnês. Se o português for a tua língua principal e perderes um terço ou metade das tuas receitas, deixas de poder ir de férias e passas a sair à noite uma vez por semana em vez de duas. Isto é uma questão muito séria para as pessoas. Mas a Apple é uma empresa que luta para que os músicos sejam pagos. Como é que podes opor-se à Apple de querer recompensar as pessoas que pagam para ouvir música? É um absurdo. Algumas pessoas fazem downloads automáticos por não lerem condições. Queríamos deixar a ‘garrafa de leite junto à porta’, e acabou não só dentro do frigorífico como nos próprios cereais. E algumas pessoas tinham intolerância à lactose (risos). Tratou-se de um acidente, não de uma empresa a vender os detalhes individuais das pessoas.
Ouvimos as canções novas e percebemos imediatamente que algumas delas vão ser clássicos. Que lições retiraram de No Line on the Horizon?
Larry Mullen Jr. - O de não sermos tão bons como às vezes pensamos. E que a escrita de canções é uma forma de arte ardilosa para nós e que por isso temos que arranjar uma maneira de compor melhores canções.
Adam Clayton - Lançamos o álbum antes de finalizá-lo. Tem grandes canções nele. Mas quando ouço hoje o disco, reparo que não concluímos as canções devidamente.
Mas havia grandes canções no No Line on the Horizon?
Larry - Não discordo de tudo. Mas tratam-se de canções que vão ser tocadas ao vivo, que têm que apanhar o espírito e têm que fazer sentido. E não senti isso com o No Line on the Horizon. Tínhamos que ser mais cuidados com a composição e a produção das canções até serem bem decifradas, foi por isso que tivemos agora que demorar tanto tempo.
Bono - Não compartilho das preocupações do Larry com o No Line on the Horizon. Gosto de muita música experimental, das não-canções. Mas o Larry tem sido desde o início o mais preocupado com as canções no sentido clássico do termo. Ele odiava o rock progressivo. Lembro-me de lhe mostrar jazz progressivo e dele ficar enojado e de querer rejeitar tudo aquilo. Todos nós fomos formados pela escola do punk, tratavam-se de grandes canções. Este álbum, queríamos que fosse de canções. "Songs of Innocence" é sobre canções.
De que trata este novo álbum?
The Edge - Representa um grande esforço para regressarmos aos nossos primórdios. Por isso, é um disco muito pessoal que reflete as origens da banda como pessoas e como músicos: como nos juntamos, como fomos influenciados pela música do final dos anos 70 que vivia a era do punk. É quase um álbum autobiográfico e talvez o mais revelador de todos a nível das letras. Apesar disso, evitamos a nostalgia e o sentimentalismo. Estou muito orgulhoso sobre a forma como o álbum saiu. Para um álbum que é quase conceitual, nos preocupamos se as canções iam ter um apelo universal. Canções como “Every Breaking Wave” e “Song for Someone” são clássicos que poderiam vingar em qualquer outro álbum nosso.
Qual das novas canções acham que se vai tornar um clássico?
Adam – “Every Breaking Wave”, “Song for Someone”, “Volcano”, penso que vamos tocar essas durante muito tempo. “Cedarwood Road” também tem pernas fortes para andar.
Vão estar em turnê. Tocarão em estádios, em grandes salas?
Larry - Não sei quando vamos tocar na Europa, mas, se tudo correr bem, vamos iniciar a turnê na América no próximo Verão, em grandes salas que é onde queremos estar. Logo veremos se tocaremos em estádios.
Irão retornar a Portugal?
Bono - Devemos! Temos que regressar. Temos grandes memórias daí e sentimentos muito fortes. Há aí uma grande paixão por nós. Mexe tanto conosco, passarem as nossas músicas na rádio. Os lunáticos que passam 24 horas ouvindo nossa música é um certificado de loucura. Sofrem da mesma megalomania que nós que tentamos impingir a nossa música a meio bilhão de pessoas. Fazer de nós o vosso centro das atenções é muito simpático. Temos que responder e fazer agora de Portugal o nosso centro de atenções por dois dias. Como o faremos, ainda não sabemos. As canções são como os nossos pais: dizem-nos o que devemos fazer, como devemos comportar-nos, a que horas devemos regressar a casa e o que devemos vestir. Estamos a ouvir o que estas canções e que digressões nos dizem para fazermos. Há canções sem teto como “Where the Streets Have No Name”. Algumas das novas canções não têm apenas tetos, como são autênticos quartos. Estamos tentando tocar em espaços fechados, mas eventualmente vamos tocar em espaços ao ar livre. Em qualquer uma dessas opções, seria ótimo tocarmos em Portugal. Em qualquer uma dessas encarnações, nos encontraremos.
The Edge - É provável que a turnê dure dois anos. Ainda não sabemos quando mas com toda a certeza iremos tocar em Portugal.
Turnê de dois anos? Tenho 43 anos, como é que vocês arranjam energia para uma coisa dessas?
The Edge - A energia vem, mal subimos no palco e nos encontramos com o público que nos devolve as canções. Somos nós que tocamos as canções mas o que é importante é o que recebemos da assistência. É um luxo podermos usufruir disto durante dois anos.
[Parte 2]
Nesta segunda parte da entrevista, a banda não só nos confessaram os seus “prazeres culposos”, como o próprio Bono nos canta um deles: “Hold Me Close” do David Essex. Para The Edge, que se demove de cantar mais porque há um cantor bem melhor que ele na banda, faltam grandes letras ao rock atual.
Cá entre nós, há alguma canção antiga que não vos ambicionam tocar hoje em dia?
Adam Clayton - Passamos sempre por fases em que concordamos dar um repouso a esta ou aquela canção. Reparei que “Bullet the Blue Sky” já não faz parte do nosso set há uns bons anos. Está na hora de alterarmos isso.
Mas há algumas que vocês não podem parar de tocar?
Adam - Certo. Estou a pensar em “Where The Streets Have No Name” que desde que começamos a tocá-la regularmente, nunca mais saiu do nosso setlist. É uma daquelas canções que é muito difícil não tocar. Há algumas que deixamos de lado e que mais tarde recuperamos, como o “I Still Haven't Found What I'm Looking For” que foi o nosso segundo grande êxito na América do Norte, são sempre difíceis de não tocar. Por alguma razão, são grandes canções e as amamos tanto como qualquer outra pessoa.
Costumam ouvir de tempos em tempos seus discos antigos, como, por exemplo, o The Unforgettable Fire? O que vem à mente de vocês quando os ouvem?
The Edge - Os ouvimos de vez em quando. Fico sempre impressionado pelo quão inovadores os discos ainda são porque não soam a nada da sua era. Às vezes ouço coisas que podiam ter sido melhoradas mas, geralmente, fico bastante satisfeito. Mesmo álbum mais difíceis como o Pop e o No Line on the Horizon têm faixas que me entusiasmam muito. Podem não ser canções clássicas e provavelmente não as tocaremos mais, mas no outro dia ouvi do Pop o “The Playboy Mansion” e achei que estava ali uma grande música. Ou “Moment of Surrender” do No Line on the Horizon, que grande canção!
Um ouvinte sugeriu-me esta pergunta: têm algum guilty pleasure (prazer culposo)?
The Edge - Gosto muito de eletrônica, como os M83, que são completamente ‘club music’.
Adam - Talvez o disco ‘sound’ dos anos 70, que odiava quando ouvíamos punk naquela época, e que não compreendia. Mas hoje até gosto, como os Bee Gees, The Gap Band, aquelas música alegres que nos arrebitam.
Larry - Não há nenhum prazer que me envergonhe. Quando estava a crescer e ainda não podia comprar os meus discos, era obrigado a ouvir lá em casa a música da minha irmã. Redescobri recentemente que esses discos ainda mexem comigo. Um que eu não compreendia era o The Wild, the Innocent & the E Street Shuffle do Bruce Springsteen (álbum de 1973). Outro disco que não compreendia em miúdo era o Pretzel Logic dos Steely Dan (de 1974). Quando ouço as canções desse disco percebo que não têm a ver com a minha formação, mas, eram grandes temas.
Bono - Na música pop, adoro os Bee Gees. Sou louco o suficiente para declarar que eles eram gênios. Da tragédia ao disco sound, até temas mais antigos como Massachusetts.
Seriam capazes de tocar esses temas ao vivo? Já ouvi-los cantar “Dancing Queen” do ABBA.
Bono - Tenho alguns ‘prazeres culposos’ na música pop. Mesmo no nosso novo disco, há pedacinhos minúsculos de temas que nos marcaram no nosso crescimento em que se podem pegar, como na faixa “Iris (Hold Me Close)”, que se liga a uma canção que ouvia quando eu tinha 14 anos, “Hold Me Close” do David Essex que foi nº1 do top.
Adoro essa canção mas não a teria levado para a cozinha do Larry para o nosso primeiro ensaio.
Larry - Também não teria sido capaz de levar nenhum tema dos Steely Dan.
(Pergunta dirigida a The Edge) Fizemos um top 20 dos melhores temas dos U2 na Rádio Comercial. A mais votada foi One, a segunda mais votada With or Without You mas a terceira não adivinharias.. É uma canção de nome Numb. Quando você volta a cantar esse tema? Será que deixam?
The Edge - Adoro cantar e acho que o faço bem em algumas coisas. Mas a razão porque não canto mais é porque temos um grande cantor na banda (risos). Às vezes estou a cantar no estúdio um tema quando estou a trabalhar num esboço de uma melodia, mas o Bono o canta e é completamente diferente (mais risos). É muito difícil para mim competir com ele.
Que músico gostariam de ver fazer uma versão de um tema dos U2? E que canção seria essa?
Adam - Penso que uma versão de “Sunday Bloody Sunday” pelo Bob Marley teria sido muito interessante.
The Edge - Há tantos cantores bons. O Sam Smith, que esteve agora no Jools Holland, é um cantor soul muito bom. Adoraria vê-lo a cantar um tema do U2. Ou o John Newman, outro grande cantor de soul. O With or Without You seria um bom tema para arrebatar.
Outro ouvinte da rádio, Pedro Santos, nos disse que, em termos de grandes êxitos, parece que vivemos mais no mundo do David Guetta ou do Calvin Harris do que no rock. O que aconteceu ao rock?
Adam - Penso que deixaram de existir as grandes canções. Tão simples quanto isso.
Não será um problema do rock em si? Ou serão só das canções?
Adam - Penso que é um problema apenas das canções. O rock continua com um som vital, basta ouvirmos uma banda como os Royal Blood que são espantosos. Eles têm temas muito fortes. Mas os tipos de pop e do R&B estão a escrever melhores canções.
The Edge - Penso que a qualidade da escrita de letras no rock não tem sido tão boas como foi no passado. O David Guetta tem uma fantástica melodia, Titanium, com uma grande letra. Não é por acidente que temas como estes são grandes êxitos.
É difícil lidar com o estatuto do U2? São sempre obrigados a atingir outro patamar sempre que editam um disco, certo?
Adam - Estão sempre a lançar os dados e a apostar contra si próprio. Com vista a nos mantermos interessante, temos sempre que nos desafiar. Fazer apenas o que parece mais fácil não vai nos fazer sentir assim tão bem.
Tiveram de tirar alguma das canções?
Adam - Deixamos algumas fora sim.
Alguma vez já reconheceram: talvez aquela canção seja boa, vamos pegar nela outra vez?
Adam - Elas vão para uma concha. E às vezes abrimos essa concha. Uma ideia que não é boa nesta semana, pode ser útil duas semanas depois.
The Edge - Um exemplo disso neste disco “Sleep Like a Baby Tonight” que começou a ser trabalhada há alguns anos, mas que nunca passou da fase de demo. Era uma demo muito promissora. Sabíamos que era um tema em que iríamos pegar. Tocamos a demo para o Danger Mouse que disse: “uau, porreiro, vamos trabalhar nesta canção”. E mesmo assim, em todo o processo de gravação do álbum, gastamos cinco ou seis dias com a canção, e não deixa de ser uma das mais fortes do disco. Há poucas coisas a lembrar: uma grande canção transcende sempre várias eras de novas músicas e de novos gêneros. Se for bem feita, a canção será à prova de bala. Foi com o que nos preocupamos nestes últimos anos: as canções.
Fonte: Cotonete
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“É permitida a reprodução total ou parcial deste texto desde que obrigatoriamente citada a fonte.
Bono - ‘Seria fantástico darmos um brinde (aos fãs)'. E o Tim Cook (CEO da Apple) nos perguntou: 'O quê, vão dar a eles uma canção?'. E nós o respondemos: 'não, um álbum inteiro' (risos). 'Vocês vão oferecer-lhes um álbum inteiro de graça?'. 'Não, nós queremos é que vocês nos comprem o disco e lhes ofereçam de graça'. 'Uau', e ele ficou a pensar. Eles ficaram com o disco durante um mês e pagaram-nos uma pequena quantia. Não fizemos o álbum de graça.
Porque teriam que fazer o álbum de graça? É o emprego de vocês.
Bono - Os músicos merecem ser pagos. Não precisamos ser pagos porque temos tido uma vida muito abençoada, o nosso público tem nos permitido isso. Continuamos a merecer ser pagos já que somos nós a compor as canções. Podem dizer-nos: ‘ah, mas vocês podem vender t-shirts e fazer turnês. Pensemos nos compositores de canções: o Cole Porter não vendia camisetas e não podia fazer turnês. Se o português for a tua língua principal e perderes um terço ou metade das tuas receitas, deixas de poder ir de férias e passas a sair à noite uma vez por semana em vez de duas. Isto é uma questão muito séria para as pessoas. Mas a Apple é uma empresa que luta para que os músicos sejam pagos. Como é que podes opor-se à Apple de querer recompensar as pessoas que pagam para ouvir música? É um absurdo. Algumas pessoas fazem downloads automáticos por não lerem condições. Queríamos deixar a ‘garrafa de leite junto à porta’, e acabou não só dentro do frigorífico como nos próprios cereais. E algumas pessoas tinham intolerância à lactose (risos). Tratou-se de um acidente, não de uma empresa a vender os detalhes individuais das pessoas.
Ouvimos as canções novas e percebemos imediatamente que algumas delas vão ser clássicos. Que lições retiraram de No Line on the Horizon?
Larry Mullen Jr. - O de não sermos tão bons como às vezes pensamos. E que a escrita de canções é uma forma de arte ardilosa para nós e que por isso temos que arranjar uma maneira de compor melhores canções.
Adam Clayton - Lançamos o álbum antes de finalizá-lo. Tem grandes canções nele. Mas quando ouço hoje o disco, reparo que não concluímos as canções devidamente.
Mas havia grandes canções no No Line on the Horizon?
Larry - Não discordo de tudo. Mas tratam-se de canções que vão ser tocadas ao vivo, que têm que apanhar o espírito e têm que fazer sentido. E não senti isso com o No Line on the Horizon. Tínhamos que ser mais cuidados com a composição e a produção das canções até serem bem decifradas, foi por isso que tivemos agora que demorar tanto tempo.
Bono - Não compartilho das preocupações do Larry com o No Line on the Horizon. Gosto de muita música experimental, das não-canções. Mas o Larry tem sido desde o início o mais preocupado com as canções no sentido clássico do termo. Ele odiava o rock progressivo. Lembro-me de lhe mostrar jazz progressivo e dele ficar enojado e de querer rejeitar tudo aquilo. Todos nós fomos formados pela escola do punk, tratavam-se de grandes canções. Este álbum, queríamos que fosse de canções. "Songs of Innocence" é sobre canções.
De que trata este novo álbum?
The Edge - Representa um grande esforço para regressarmos aos nossos primórdios. Por isso, é um disco muito pessoal que reflete as origens da banda como pessoas e como músicos: como nos juntamos, como fomos influenciados pela música do final dos anos 70 que vivia a era do punk. É quase um álbum autobiográfico e talvez o mais revelador de todos a nível das letras. Apesar disso, evitamos a nostalgia e o sentimentalismo. Estou muito orgulhoso sobre a forma como o álbum saiu. Para um álbum que é quase conceitual, nos preocupamos se as canções iam ter um apelo universal. Canções como “Every Breaking Wave” e “Song for Someone” são clássicos que poderiam vingar em qualquer outro álbum nosso.
Qual das novas canções acham que se vai tornar um clássico?
Adam – “Every Breaking Wave”, “Song for Someone”, “Volcano”, penso que vamos tocar essas durante muito tempo. “Cedarwood Road” também tem pernas fortes para andar.
Vão estar em turnê. Tocarão em estádios, em grandes salas?
Larry - Não sei quando vamos tocar na Europa, mas, se tudo correr bem, vamos iniciar a turnê na América no próximo Verão, em grandes salas que é onde queremos estar. Logo veremos se tocaremos em estádios.
Irão retornar a Portugal?
Bono - Devemos! Temos que regressar. Temos grandes memórias daí e sentimentos muito fortes. Há aí uma grande paixão por nós. Mexe tanto conosco, passarem as nossas músicas na rádio. Os lunáticos que passam 24 horas ouvindo nossa música é um certificado de loucura. Sofrem da mesma megalomania que nós que tentamos impingir a nossa música a meio bilhão de pessoas. Fazer de nós o vosso centro das atenções é muito simpático. Temos que responder e fazer agora de Portugal o nosso centro de atenções por dois dias. Como o faremos, ainda não sabemos. As canções são como os nossos pais: dizem-nos o que devemos fazer, como devemos comportar-nos, a que horas devemos regressar a casa e o que devemos vestir. Estamos a ouvir o que estas canções e que digressões nos dizem para fazermos. Há canções sem teto como “Where the Streets Have No Name”. Algumas das novas canções não têm apenas tetos, como são autênticos quartos. Estamos tentando tocar em espaços fechados, mas eventualmente vamos tocar em espaços ao ar livre. Em qualquer uma dessas opções, seria ótimo tocarmos em Portugal. Em qualquer uma dessas encarnações, nos encontraremos.
The Edge - É provável que a turnê dure dois anos. Ainda não sabemos quando mas com toda a certeza iremos tocar em Portugal.
Turnê de dois anos? Tenho 43 anos, como é que vocês arranjam energia para uma coisa dessas?
The Edge - A energia vem, mal subimos no palco e nos encontramos com o público que nos devolve as canções. Somos nós que tocamos as canções mas o que é importante é o que recebemos da assistência. É um luxo podermos usufruir disto durante dois anos.
[Parte 2]
Nesta segunda parte da entrevista, a banda não só nos confessaram os seus “prazeres culposos”, como o próprio Bono nos canta um deles: “Hold Me Close” do David Essex. Para The Edge, que se demove de cantar mais porque há um cantor bem melhor que ele na banda, faltam grandes letras ao rock atual.
Cá entre nós, há alguma canção antiga que não vos ambicionam tocar hoje em dia?
Adam Clayton - Passamos sempre por fases em que concordamos dar um repouso a esta ou aquela canção. Reparei que “Bullet the Blue Sky” já não faz parte do nosso set há uns bons anos. Está na hora de alterarmos isso.
Mas há algumas que vocês não podem parar de tocar?
Adam - Certo. Estou a pensar em “Where The Streets Have No Name” que desde que começamos a tocá-la regularmente, nunca mais saiu do nosso setlist. É uma daquelas canções que é muito difícil não tocar. Há algumas que deixamos de lado e que mais tarde recuperamos, como o “I Still Haven't Found What I'm Looking For” que foi o nosso segundo grande êxito na América do Norte, são sempre difíceis de não tocar. Por alguma razão, são grandes canções e as amamos tanto como qualquer outra pessoa.
Costumam ouvir de tempos em tempos seus discos antigos, como, por exemplo, o The Unforgettable Fire? O que vem à mente de vocês quando os ouvem?
The Edge - Os ouvimos de vez em quando. Fico sempre impressionado pelo quão inovadores os discos ainda são porque não soam a nada da sua era. Às vezes ouço coisas que podiam ter sido melhoradas mas, geralmente, fico bastante satisfeito. Mesmo álbum mais difíceis como o Pop e o No Line on the Horizon têm faixas que me entusiasmam muito. Podem não ser canções clássicas e provavelmente não as tocaremos mais, mas no outro dia ouvi do Pop o “The Playboy Mansion” e achei que estava ali uma grande música. Ou “Moment of Surrender” do No Line on the Horizon, que grande canção!
Um ouvinte sugeriu-me esta pergunta: têm algum guilty pleasure (prazer culposo)?
The Edge - Gosto muito de eletrônica, como os M83, que são completamente ‘club music’.
Adam - Talvez o disco ‘sound’ dos anos 70, que odiava quando ouvíamos punk naquela época, e que não compreendia. Mas hoje até gosto, como os Bee Gees, The Gap Band, aquelas música alegres que nos arrebitam.
Larry - Não há nenhum prazer que me envergonhe. Quando estava a crescer e ainda não podia comprar os meus discos, era obrigado a ouvir lá em casa a música da minha irmã. Redescobri recentemente que esses discos ainda mexem comigo. Um que eu não compreendia era o The Wild, the Innocent & the E Street Shuffle do Bruce Springsteen (álbum de 1973). Outro disco que não compreendia em miúdo era o Pretzel Logic dos Steely Dan (de 1974). Quando ouço as canções desse disco percebo que não têm a ver com a minha formação, mas, eram grandes temas.
Bono - Na música pop, adoro os Bee Gees. Sou louco o suficiente para declarar que eles eram gênios. Da tragédia ao disco sound, até temas mais antigos como Massachusetts.
Seriam capazes de tocar esses temas ao vivo? Já ouvi-los cantar “Dancing Queen” do ABBA.
Bono - Tenho alguns ‘prazeres culposos’ na música pop. Mesmo no nosso novo disco, há pedacinhos minúsculos de temas que nos marcaram no nosso crescimento em que se podem pegar, como na faixa “Iris (Hold Me Close)”, que se liga a uma canção que ouvia quando eu tinha 14 anos, “Hold Me Close” do David Essex que foi nº1 do top.
Adoro essa canção mas não a teria levado para a cozinha do Larry para o nosso primeiro ensaio.
Larry - Também não teria sido capaz de levar nenhum tema dos Steely Dan.
(Pergunta dirigida a The Edge) Fizemos um top 20 dos melhores temas dos U2 na Rádio Comercial. A mais votada foi One, a segunda mais votada With or Without You mas a terceira não adivinharias.. É uma canção de nome Numb. Quando você volta a cantar esse tema? Será que deixam?
The Edge - Adoro cantar e acho que o faço bem em algumas coisas. Mas a razão porque não canto mais é porque temos um grande cantor na banda (risos). Às vezes estou a cantar no estúdio um tema quando estou a trabalhar num esboço de uma melodia, mas o Bono o canta e é completamente diferente (mais risos). É muito difícil para mim competir com ele.
Que músico gostariam de ver fazer uma versão de um tema dos U2? E que canção seria essa?
Adam - Penso que uma versão de “Sunday Bloody Sunday” pelo Bob Marley teria sido muito interessante.
The Edge - Há tantos cantores bons. O Sam Smith, que esteve agora no Jools Holland, é um cantor soul muito bom. Adoraria vê-lo a cantar um tema do U2. Ou o John Newman, outro grande cantor de soul. O With or Without You seria um bom tema para arrebatar.
Outro ouvinte da rádio, Pedro Santos, nos disse que, em termos de grandes êxitos, parece que vivemos mais no mundo do David Guetta ou do Calvin Harris do que no rock. O que aconteceu ao rock?
Adam - Penso que deixaram de existir as grandes canções. Tão simples quanto isso.
Não será um problema do rock em si? Ou serão só das canções?
Adam - Penso que é um problema apenas das canções. O rock continua com um som vital, basta ouvirmos uma banda como os Royal Blood que são espantosos. Eles têm temas muito fortes. Mas os tipos de pop e do R&B estão a escrever melhores canções.
The Edge - Penso que a qualidade da escrita de letras no rock não tem sido tão boas como foi no passado. O David Guetta tem uma fantástica melodia, Titanium, com uma grande letra. Não é por acidente que temas como estes são grandes êxitos.
É difícil lidar com o estatuto do U2? São sempre obrigados a atingir outro patamar sempre que editam um disco, certo?
Adam - Estão sempre a lançar os dados e a apostar contra si próprio. Com vista a nos mantermos interessante, temos sempre que nos desafiar. Fazer apenas o que parece mais fácil não vai nos fazer sentir assim tão bem.
Tiveram de tirar alguma das canções?
Adam - Deixamos algumas fora sim.
Alguma vez já reconheceram: talvez aquela canção seja boa, vamos pegar nela outra vez?
Adam - Elas vão para uma concha. E às vezes abrimos essa concha. Uma ideia que não é boa nesta semana, pode ser útil duas semanas depois.
The Edge - Um exemplo disso neste disco “Sleep Like a Baby Tonight” que começou a ser trabalhada há alguns anos, mas que nunca passou da fase de demo. Era uma demo muito promissora. Sabíamos que era um tema em que iríamos pegar. Tocamos a demo para o Danger Mouse que disse: “uau, porreiro, vamos trabalhar nesta canção”. E mesmo assim, em todo o processo de gravação do álbum, gastamos cinco ou seis dias com a canção, e não deixa de ser uma das mais fortes do disco. Há poucas coisas a lembrar: uma grande canção transcende sempre várias eras de novas músicas e de novos gêneros. Se for bem feita, a canção será à prova de bala. Foi com o que nos preocupamos nestes últimos anos: as canções.
Fonte: Cotonete
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