Apresentações do U2 nos EUA confirmam o título de maior espetáculo do rock

A iNNOCENCE + eXPERIENCE Tour, do U2, está excursionando num circuito de 20 cidades em seis meses por toda a América do Norte e pela Europa, e estes são seus primeiros shows em arenas fechadas em dez anos.
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Para ter uma perspectiva mais completa, sentei nas fileiras da frente, depois umas dez fileiras atrás, fiquei a 3 metros do palco na plateia, e assisti a um show na galeria. De todos os ângulos, o que impressiona imediatamente o espectador é o espetáculo do próprio cenário, que ocupa dois palcos em cada extremidade da arena, com uma passarela que se estende por todo o comprimento da plateia. Suspensa sobre a passarela há uma tela de vídeo transparente de cerca de 30 metros por 10, em que os membros da banda podem entrar lateralmente e se fundirem com os gráficos. A certa altura, Bono aparece na tela, caminhando pelo bairro onde passou sua infância em Cedarwood Road. As imagens de flores de cerejeira, carros e pessoas fazendo jogging passam por Bono, como s ele fosse o Super Mario numa versão de sua vida em videogame.
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Este é um dos vários momentos que provocaram exclamações de espanto dos espectadores à minha volta. Outro foi durante Until the End of the World, a melhor trilha do melhor álbum da banda, Achtung Baby, em que o cenário se equipara à audácia de uma cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim. A esta altura, Edge entrou na tela com sua guitarra, sobre a imagem da palma da mão estendida de Bono, enquanto páginas arrancadas da Bíblia, de Ulisses e de Alice no País das Maravilhas caíam como uma chuva de confetes (querendo evocar o incêndio da biblioteca de Sarajevo num bombardeio durante a Guerra da Bósnia). A melhor visão não foi de perto na plateia (US$ 65), nem no alto da galeria, onde a intimidade se perde (US$ 95). A melhor linha visual – surpresa! – é na parte inferior da plateia, onde os ingressos são os mais caros (US$ 275). É que o conjunto das novas músicas do U2, a soma de música e do visual é maior do que suas partes. Há uma faixa do álbum intitulada Iris (Hold Me Close) que Bono escreveu para a mãe dele, que morreu quando ele tinha 14 anos. No disco, não achei grande coisa. Mas no show, você vê Iris Hewson ainda jovem em velhos filmes feitos em casa e Bono ao vivo superposto ao lado da mãe morta, é um momento realmente muito forte. É como se Songs of Innocence fosse uma trilha da Broadway que precisasse do contexto de uma encenação ao vivo para ser apreciada. O reverso disso é, digamos, diferente de um show de Bruce Springsteen, há poucos desvios da lista de canções. Elas formam uma narrativa rígida das músicas, imagens e coreografia – em geral, a primeira parte do show é um miniato que se desenrola do bairro de Bono, pelo seu quarto, na Irlanda do Norte, para o Muro de Berlim.
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Implicitamente, uma série de shows sugere listas intercambiáveis, e uma revisitação de obras já apresentadas. Das cerca de 25 canções tocadas em cada show, umas 20 são situações noturnas. Depois de cinco shows, o que você achava que fossem momentos de espontaneidade são, na realidade, cuidadosamente formatados e ensaiados: Bono brincando com o microfone à maneira de Fred Astaire; jogando água no público, sua predileção por expressões de sua lavra como: “A América não é um país, é uma ideia”. Observei, por exemplo, Edge e Adam Clayton tirando o paletó no mesmo momento em cada show (sempre depois de I Will Follow, a música número 4). Talvez fosse um certo ceticismo, mas minha posição era estranha depois de tomar um porre de U2.
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A maioria dos fãs provavelmente só pode assistir a um show, e o assiste com um olhar virgem. No terceiro show, no domingo, sentei perto de um casal de pouco mais de 30 anos que dirigira de carro de Cincinnati a Chicago. Seu fanatismo pelo U2 poderia ser medido em décadas, e, no entanto, este era o seu primeiro show ao vivo. Fiquei observando os dois a noite toda, e o olhar em seus rostos me era familiar. Meu primeiro show do U2 foi em 2001, durante a turnê Elevation, no Staples Center em Los Angeles, dois meses depois de 11 de setembro. O concerto queria ser uma trégua necessária para um público que ainda sofria profundamente. As emoções foram crescendo desde o começo do show, se agigantando e pressionando a cada hora, até que Edge começou aquele riff inesquecível com a guitarra de Where the Streets Have No Name, e a banda veio vindo com a batida em dó sustenido alto e – boom! – todas as luzes se acenderam brilhantes, foi um momento de liberação, de alegria, de exaltação tão grande que metade da arena se emocionou. Eu perdi isto. Fiquei olhando o casal de Cincinnati – e 20 mil outras pessoas ao meu redor no United Center – jogando os braços para o alto durante Pride (In the Name of Love), enquanto Bono levantava a bandeira do orgulho gay. Então veio City of Blinding Lights, outra música que provocou a mesma explosão, com as luzes literalmente ofuscantes, como em Streets, e um coro de oh-ooh-oh que é impossível o espectador deixar de acompanhar. Desde as finais da Copa Stanley de hockey, na Madhouse on Madison não se via um público mais feliz no planeta Terra.
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Os fãs não questionaram a relevância do U2 para a música contemporânea, nem ficaram revoltados com a camiseta de lembrança a US$ 45, nem insistiram para a banda tocar as mesmas músicas noite após noite. Eles testemunharam um musical da Broadway disfarçado de show de rock and roll, com uma banda que em seus melhores momentos pode proporcionar ao público o ápice da emoção religiosa deste lado das artes seculares. Sim, eu esperaria na fila para comprar aqueles ingressos.

 

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