Em março de 2016, o U2 estava fora de Dublin, dando continuidade ao seu álbum de 2014, Songs of Innocence. Então as eleições britânicas e americanas abalaram o mundo, atrasando o álbum e introduzindo um tom mais sombrio e diretamente político em algumas de suas letras. “O mundo havia mudado”, disse Bono. “Nós necessitávamos de uma pausa para assimilar a escala dessa mudança”.
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Songs of Experience, décimo quarto álbum de estúdio da banda, está previsto para chegar ao mercado no dia 1º de dezembro. Ele aparece em um momento em que a cultura popular está reunindo sua retidão e resistência – um momento que poderia muito bem ser adequado ao U2, cujas guitarras vibrantes e batidas marciais se tornaram, ao longo dos anos, a assinatura sonora do idealismo específico do rock.
Songs of Experience mescla reflexões pessoais com as correntes do mundo como um todo e pede compaixão, empatia e retidão. “Deixamos que a malvadez do mundo perfurasse o álbum”, explicou Bono. “Entretanto, teve de ser ainda muito pessoal”.
“As eleições foram um abalo para o sistema em termos pessoais e um abalo para o sistema em termos políticos não apenas nos Estados Unidos, mas também na Europa. Esta é a minha resposta lírica a ambos os abalos”, acrescentou Bono.
O U2 lançou, no final de agosto,
The Blackout como o vídeo de uma performance. É um rock que começa da seguinte maneira: “Os dinossauro se perguntam por que ainda andam sobre a Terra”. E continua: “Será um evento sobre a extinção?”. “Escrevi essa música, falando de democracia, e não de um velho astro do rock”, contou Bono.
Ainda mais consciente de sua condição singular de banda de rock que entrou em sua quinta década de existência com a mesma formação original – e que continua fazendo shows em arenas e estádios lotados –, o grupo reflete constantemente sobre o passado e sua determinação de ir em frente.
Quando o U2 lançou
Songs of Innocence, imediatamente prometeu uma continuidade com um título que os leitores do poeta William Blake poderiam esperar:
Songs of Experience. Mas
Songs of Experience não é exatamente uma continuidade. É tão autobiográfico quanto o U2 sempre foi, inclusive uma canção que se intitula Iris, o nome da mãe de Bono, e outra que cita a rua onde ele cresceu, Cedarwood Road. Em contraste,
Songs of Experience retoma os temas mais amplos que enchem o catálogo do U2: amor, medo, mortalidade, responsabilidade e esperança.
Muitas de suas músicas, disse Bono, são como cartas endereçadas a um destinatário específico: a família, os amigos, o público, os Estados Unidos. Acima de tudo, o novo álbum postula “a alegria como um ato de desafio”, disse Bono.
As novas canções vagueiam dos hinos de arena do U2 aos hinos celestiais, ecos do rock dos anos 1950 e vislumbres da música disco e new wave.
Para
Songs of Experience, Bono e o guitarrista da banda, The Edge, afirmaram que ouviram mais inovação fora do rock do que dentro dele: no R&B, hip-hop e pop.“Ver o fim de um certo tipo de composição, particularmente no rock, fez a banda determinar que teria de ir para lá”, contou Bono.
The Edge expôs um critério mais simples: “Neste disco, pensamos: Será que vai ser tocado por pessoas em uma van daqui a 25 anos?”.
Songs of Innocence foi lançado como álbum gratuito que, de repente, apareceu nas bibliotecas dos usuários do iTunes do mundo inteiro e, contudo, foi recebido por muitos não como um presente, mas como uma invasão de suas coleções de músicas particulares – em um exercício de arrogância, e não de generosidade. Entretanto, os integrantes da banda acreditam que o fato de ter sido dado apresentou o U2 aos fãs mais jovens que eles veem em meio ao público dos shows mais recentes.
Songs of Experience está sendo apresentado mais como um álbum da velha escola lançado pelos canais normais. O U2 andou tocando uma de suas músicas,
The Little Things that Give You Away, na turnê
Joshua Tree, e acaba de lançar o primeiro single de estúdio do álbum,
You’re the Best Thing About Me. Uma canção mais direta sobre o amor como tudo no repertório do U2 – inspirada, afirma o pessoal da banda, no exemplo das canções da gravadora Motown, embora soe muito diferente.
“Você lança uma música sobre sua namorada enquanto o mundo está pegando fogo?”, perguntou Bono, antecipando uma reação: “Sim. A alegria é um ato de defesa”.
Fonte:
Estadão
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