Entrevista com Otto Kitsinger, fotógrafo que registrou momentos memoráveis do U2 ao vivo

Ele falhou em fotografia no colegial e teve que tirar suas fotos do U2 no meio do público. Então, como ele conseguiu ir a 100 shows do U2 e ser procurado por milhares de fãs online, como também pela revista Rolling Stone e o Rock and Roll Hall of Fame, pelas suas fotos do U2 ao vivo? Confira tradução completa da entrevista exclusiva aos assinantes do U2.com.



Como você começou a tirar fotos do U2?
Eu comecei como um fã no meio do público e terminei como um fã no meio do público. Eu fui em alguns shows da Zoo TV mas sem câmera; então na PopMart eu levei uma câmera de $ 20 dólares pra tirar algumas fotos do telão, justamente pra mostrar pras pessoas o porque eu estava indo em tantos shows. Naquela época não tinha Flickr...

E nem câmeras no celular.
Isso mesmo. Aconteceu de eu estar perto do trilho que levava ao palco B e alguém da equipe do U2 esquivou-se do caminho pra eu tirar uma foto. Eu o cumprimentei e disse obrigado. Depois eu encontrei esse cara de novo e ele disse: “Se você quiser trazer uma câmera no futuro, não tem problema – só não pode lentes objetivas.” Então, no próximo show eu levei minha câmera com uma lente de 50mm e consegui algumas boas fotos e coloquei na Internet. Eu ainda não tinha um site com meu nome, mas eu postei numa página de fotos no perfil da minha conta e mandei para algumas listas de discussões.

E...?
Eu tive 24.000 visualizações no primeiro dia. Foi aí que eu percebi que estava no caminho certo. Naquela época não havia nada igual na Internet. E aí rapidamente todo mundo sabia quem eu era. Simplesmente aconteceu assim. Era só um site de fã.

Você era fotógrafo na época?
Não. Eu tinha ido para a escola de cinema, mas eu não era um fotógrafo. Na verdade, eu falhei em fotografia no colegial. Eu trabalho agora como fotógrafo profissional de esportes, mas eu nunca tinha sonhado nisso na época...



Como você conseguiu chegar perto pra tirar boas fotos sem um zoom? Qual era seu segredo?
Foi pura sorte no começo. Eles não tinham sempre certeza quais lugares vender ao redor do trilho do palco B até que eles montassem, então você podia aparecer no dia do show e conseguir um lugar bem do lado. Mas também, antes do U2.com, se você pertencesse à Wire (grupo online de fãs), você poderia conseguir uma identificação e um selo e chegar perto...

O quanto você ficou restrito, sem zoom?
Era uma limitação que me fez pensar. A lente de 50mm era normal. É parecido com o que você vê. Se você fotografar com uma telefoto ou com uma câmera de ângulo grande, eu sinto que você está chamando atenção para o processo e a pessoa tirando a foto. A foto das ‘duas pontes’ do Bono e do Edge foi, na verdade, tirada com uma lente grande angular uma vez que estando onde eu podia ficar era pra ser assim (eu preferiria ter ficado mais distante com uma lente de 50mm, mas isso não ia acontecer com a minha habilidade limitada de locomoção). No entanto, eu estava no meio do público, você não me via, e eu sentia que ia conseguir . Eu estava tentando deixar os momentos falarem por si mesmos. Mas os palcos eram muito bonitos. PopMart também foi uma das coisas mais legais e apreciar aquela visão geral, eu acho que você deveria voltar de alguma forma. Eu consegui ficar na frente em alguns shows, mas eu não gostei tanto quanto aos que eu fiquei no palco B.

Estar no público – ao invés do pit – ajudou com a atmosfera das suas fotos?
Absolutamente. A banda toca para o público. O pit é apenas um espaço entre eles. Na verdade, eu fiz algumas fotos no início da turnê Vertigo do pit. Mas estranhamente eu senti que era melhor estar na audiência porque é onde a energia está.

É um estilo particular da sua fotografia?
Eu adoro tirar fotos com os holofotes de volta às fontes. Parte da restrição de tirar fotos com 50mm é que se eu estou fotografando o palco principal ou se eu recuar um pouco, você tem que preencher a foto. Mas é como se parece quando você está no público. É o jeito como um fã vê e eu sou um fã.

Falando de holofotes, você tem uma foto clássica do Bono pego com dois holofotes: foi cuidadosamente planejada?
Não. Aquela foto foi instantânea: o quadro antes e o quadro depois eram o Adam no palco. Olhei para o meu lado, vi o momento, e tirei e olhei de volta.

E o que você quando a tirou?
Eu não percebi por meses que eu tinha essa foto! Naquela época, as resoluções dos monitores não eram bons, as telas eram menores e eu percebi os holofotes quando eu postei online, caso contrário ela parecia bem pequena. Eu não pensei sobre isso até meses depois, quando alguém me perguntou. Eu a desenterrei, dei uma olhada melhor e pensei: “Eu tenho algo aqui!” Uma vez que eu coloquei a foto online, ela decolou. Acabou virando capa de livro e em seguida a foto do Rock and Roll Hall of Fame.



O que suas fotos revelam, que nós podemos não ver assistindo ao show?
Pra mim, uma coisa legal sobre fotos de show é que nós podemos isolar o momento e deixá-lo fazer uma pausa e refletir sobre aquilo, o que você não pode fazer quando está lá. Afinal, um show deve ser avassalador, uma explosão da mente. Está tudo ao seu redor e é uma experiência enorme. A foto do Bono com os dois holofotes é uma fração de segundos. Ele parou. É um momento bem breve , mas agora eu podia ver aquilo pra sempre. Na verdade é a única foto do U2 que está pendurada na minha casa.

Você já esteve em 102 shows. O quanto eles variam de um lugar para outro?
Eu percebo que em algumas cidades a público vibra de forma diferente. Em Boston e Chicago foram shows incríveis, o que não quer dizer que os outros não tenham sido mas algo acontece lá. E isso reflete nas fotos algumas vezes. A foto do Bono segurando a mão de uma menina, olhando nos olhos dela, foi tirada em Boston. Ela encontrou a foto na Internet não muito tempo depois. Ela mora na Índia e tinha ido a Boston para o show.

Nós pedimos pra você escolher suas fotos favoritas para o U2.com. Como é o processo?
Bem, eu já compartilhei 3000 fotos na Internet, então eu tive problemas pra escolhê-las. Algumas podem não ser as mais artísticas, mas elas têm uma história por trás. Eu fico feliz que as pessoas gostam. Mas nunca foi sobre as fotos, era sempre sobre a música e tentando capturá-la. Eu amo isso em todas as turnês, há visuais que ninguém nunca viu: o palco em formato de coração na Elevation; as cortinas do vídeo de contas na Vertigo; a garra e o telão maravilhoso na 360. Me sinto estranho comentando, é o trabalho de um time incrivelmente talentoso e criativo e todas as minhas fotos são cuidadosamente consideradas retângulos selecionados de alguns shows. Se eu trouxe isso, era o sincronismo. Mas o resto era o trabalho de outra pessoa.

Você acabou levando a Foto do Ano da Sports Illustrated em 2009. Esta grande conquista teria acontecido se um membro da equipe não tivesse saído do seu caminho na sua primeira foto?
Não. Há uma linha direta. Minha carreira inteira veio daquelas fotos. Então, obrigado por isso...

Fonte: U2.com



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