A música ‘Ordinary Love’,
escrita para 'Mandela: Long Walk to Freedom’, é acompanhada por um vídeo-letra no
qual as palavras escritas à mão degradam e desaparecerem.
Esta abordagem incomum foi
criada por dois artistas plásticos, o ilustrador irlandês Oliver Jeffers e o animador
americano Mac Premo. Os dois, que trabalham num centro artístico em Brooklyn, são
amigos desde que se conheceram em um acampamento de verão em Nova York quando
eram adolescentes. Só agora, eles falaram por Skype com Stuart Bailie para
U2.com, do estúdio de Oliver, e lembrando como eles chegaram nessa ideia de ‘Ordinary
Love’. No centro da música é a história de Nelson Mandela e de seus 27 anos de
prisão na África do Sul.
U2.com: Você pode explicar a ideia por trás das palavras
que desaparecem?
Oliver: É
sobre a dificuldade de amor permanente. A correspondência entre Nelson Mandela
e Winnie (sua então esposa) funcionou tão bem dentro de confinamento, mas
quando ele foi solto, o mundo real mostrou seu preço e o fez ir embora. Por
isso, foi sobre a falta de qualquer coisa permanente, realmente. É desanimador,
mas também é animador em um grau, onde te inspira a se apressar um pouco.
Mac: A ideia da escrita
desaparecendo é que quando as coisas vão embora, muitas vezes não é uma
ruptura. Elas desaparecem em diferentes formas e maneiras diferentes. Não é um
processo limpo. Você não sabe como está acontecendo exatamente, mas você pode
ver que ele é. Acho que Oliver e eu respondemos para a canção no que ela não se
disfarçou no momento real para um homem muito épico. A oportunidade de retratar
o elemento humano de alguém ão grandioso
é muito humilde. Queríamos fazer o melhor trabalho para representar isso.
U2.com : Como surgiu a incumbência?
Oliver:
Eu conheci Bono através de uma conexão mútua por algumas vezes e falamos sobre
o meu trabalho . Então, quando me pediram para fazer a tipografia para um filme
da TED , eu vi que o nome de Bono estava abaixo como um dos palestrantes da TED
("A boa notícia sobre a pobreza "). Eu pensei: 'Nós vamos estar lá,
ele vai estar lá, eu vou lhe dar um dos meus livros de arte.’ Então eu dei.
Ele entrou em contato com a ideia
de eu fazer o visual de sua palestra - que acabou não funcionando - mas a
conversa foi suficientemente interessante e ele me pediu para fazer parte deste
workshop que ele estava dando na TED. Mac e eu fomos com ele, me apaixonei pela
ONE Foundation e como resultado fomos convidados a fazer um filme para a ONE, e
pedimos para Bono fazer a narração.
Depois de ver isso, Bono
perguntou se eu estava disponível para fazer um vídeo-letra para 'Ordinary Love’
(e ), isso transformou em uma conversa através do Estúdio AKA (o estúdio de
animação de Londres, que trabalhou na adaptação de 'Lost and Found', o livro de
Oliver). A intenção original era para animar palavras que só desapareciam mas
quando Mac e eu começamos a trabalhar novamente nisto, pensamos em ter aspectos
CGI de fazer a escrita ir embora e que havia uma maneira de deixar tudo
acontecer em câmera.
Mac: Isso rapidamente se
tornou o tipo de coisa que era menos sobre computação gráfica e mais sobre uma
exploração artística na câmera, uma coisa feita à mão. E isso é realmente uma
grande parte do trabalho que fizemos. Com um monte de coisas que são feitas por
Oliver e eu, há um monte de descobertas no processo. O processo informa o
produto.
Oliver: É
definitivamente uma reação contra a quão habilidoso tudo está se tornando. Há
um bom retorno disso. Tudo o que você vê em nossos filmes é o que a câmera vê.
Além de um lugar muito óbvio.
U2.com: No vídeo, há uma ligação real ou imaginária para
uma das prisões em que Mandela foi preso?
Oliver:
"Estávamos cientes para quem a canção foi inspirada e, em seguida,
descobrimos que ele estava indo para o filme 'Mandela: Long Walk to Freedom’ .
Mac: Vimos o trailer e há
um sentido para as cores e as texturas que desempenhamos no nosso processo
artesanal. Mas como o filme desenvolveu, houve uma decisão coletiva para tentar
incorporar os dois, para enredar o filme de Mandela e o vídeo-letra. Então,
começamos a recolher ideias do filme.
Oliver:
Há a cena no vídeo com o elevador de carga e a gaiola acima, nós definitivamente
colocamos isso após a primeira rodada de revisões porque falou mais da cela em
que ele foi mantido em cativeiro por tanto tempo. A maior parte disso foi
gravada no edifício Invisible Dog onde Mac e eu temos estúdios. Há uma cena gravada
no Prospect Park. Todo o resto, como o lado das paredes e onde você ve o céu, é
tudo gravado no telhado do prédio.
Mac: The Invisible Dog Arts
Centre fica no Brooklyn e o diretor é um homem chamado Lucien Zayan. Ele
realmente quer promover ambientes criativos, então fomos até ele e perguntamos
se podíamos escrever, basicamente, todo o edifício com giz e tinta e ele disse
"sim". É ainda chocante! É um belo edifício com 100 anos de idade e
quando Lucien transformou em um centro de artes, ele não fez uma restauração da
forma do jeito como parecia por um longo tempo. Então, há vários personagens e
histórias visuais no local, um monte de belos aspectos para o prédio. Foi um
prazer usá-lo como uma tela.
U2.com: Oliver, há um retrato de Mandela no vídeo. Isso
foi um momento de alta pressão, tentando pintar um ícone?
Oliver:
Meu Deus, foi. Uma das decisões de última hora era fazer uma ligação muito mais
diretamente óbvia, ter a imagem de Nelson Mandela lá. Para ser honesto, Mac e
eu tínhamos rejeitado isso. Não podíamos ver como ele iria se encaixar e por
isso a banda se reuniu no viva voz e me telefonou no café da manhã de domingo.
Eles levaram cerca de dez minutos para explicar por que era tão importante, a ligação
deles com o homem e com o filme. Isso fez muito sentido para mim e assim Mac e
eu se juntamos e criamos.
A ideia geral é que tudo que
é criado é levado embora. Todas as palavras são feitas visual e, em seguida,
eles são apagadas de alguma forma. Mas para que isso aconteça para Mandela
parecia de alguma forma desrespeitoso. Então, tivemos a ideia de que o sol
nasce no início do filme, em seguida, volta a ele e vê o retrato que está sendo
criado no lapso de tempo e, em seguida, no final do filme é o pôr do sol. Isso
foi muito mais respeitoso.
Então, todo mundo estava de
acordo e aí chegou a hora de o lapso de tempo do retrato realmente ser criado e
eu pensei, 'Oh sim, agora eu tenho que pintar um retrato de Mandela’. Cerca de
dez minutos antes de começar, eu recebi uma mensagem do meu primo Mark que
disse que a Rolling Stone tinha chamado essa música como a homenagem do U2 para
Mandela. Assim, sem pressão!
Mac: Nós fomos para o
telhado por volta das quinze para as seis para começar ver o nascer do sol
chegando. O engraçado foi que o sol tinha que vir sobre o anteparo do telhado
onde filmamos. Eu tenho que dizer que foi um prazer fraternal em ter que
esperar quatro horas para o nosso dia de trabalho observando Oliver se contorcer
antes de começar este lapso de tempo do retrato. Ele não tinha nada que você
pudesse fazer com antecedência e aí recolocar no lugar. Ele não tinha uma ou
duas horas para fazer isso acontecer. Dado o lapso de tempo da natureza do
filme, havia uma boa quantidade de pressão.
U2.com: Há também uma imagem de Bono no vídeo.
Oliver:
Quando estávamos colocando tudo junto percebemos que ‘fight you’ se encaixa
perfeitamente nos oito dedos. Nós pensamos se vamos ter que juntar e encarar
isso, que seja com um dos integrantes da banda. Então, eu o perguntei e ele
disse: 'Venha'. Então, Mac e eu fomos.
Mac: Foi em um escritório
sem janelas por volta de 11h da noite com uma luz alógena. Literalmente um
momento do jeito que desse, no Electric Lady Studios.
U2.com: Houve um momento em que se sentou em uma sala e
deixou a banda assisti-lo, ou você simplesmente o enviou?
Mac: Havia muitas
encarnações do vídeo. A primeira coisa foi que fizemos todo o storyboard e a
coisa toda veio com todas essas ideias e as diferentes cenas que trabalharam
metaforicamente. E então, após os primeiros dias de gravação e olhando para a
edição todos nós concordamos que ele tinha que ver o seu tempo fora das
câmeras, em vez de digital.
Nós embaralhamos tudo,
acrescentou dias de gravação, voltamos, construímos outras coisas e então tudo
foi jogado de volta para o liquidificador de forma criativa. Gostaríamos de
enviar diferentes encarnações e obter um feedback. Havia uma boa quantidade de
colaboração criativa indo e voltando. E em um certo ponto, enviamos uma versão
e dissemos: 'Aqui está. Essa é o final’. E eles voltaram e disseram: 'Sim, está ótimo.’
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