Achtung Baby: um sopro de vida à carreira do U2

“Achtung Baby” foi um divisor de águas. Não apenas para o U2, mas para a música moderna em geral. Quando o álbum foi lançado em 1991, não soava como qualquer um dos álbuns anteriores da banda. E não foi preciso. Depois de mais de uma década como os “salvadores do rock and roll”, com hinos feitos para estádios lotados e canções que mudariam o mundo, a banda colocou o foco em suas próprias necessidades e desejos. Era a senha para o ‘mise-en-scéne’ que viria a seguir.
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Após escalar as mais altas montanhas rumo ao estrelato mundial a cargo dos álbuns “The Joshua Tree” (1987) e “Rattle And Hum” (1988), foi preciso uma pausa para refletir sobre sua reputação messiânica e sem algum senso de humor. Internamente, eles sabiam que se quisessem adentrar a nova década, teriam que reinventar-se por completo. E então, a banda busca inspiração na véspera da reunificação alemã, e se manda para o Hansa Studios, em Berlim, no final de 1990.

Trabalhando novamente com os produtores Brian Eno e Daniel Lanois, desta vez no berço de grandes discos conceituais como “Low”, de David Bowie, e palco de uma cena eletrônica que encontraria ecos até hoje (Kraftwerk, que o diga), o U2 lidava com o clima sombrio e os conflitos que surgiam ao longo dos dias sobre a direção musical e a qualidade de seu material.

Até engrenarem nas gravações foi um período turbulento. Mas quando a máquina começou a funcionar, o quarteto começou a registrar canções que tocavam assuntos como economia, atrelados à cena eletrônica, dance music e um pouquinho de rock alternativo. O impacto da crise que o mundo vivia e os ares da cidade alemã sobre o sétimo álbum do U2 não poderiam ser subestimados.

Canções como “Zoo Station”, “Even Better Than The Real Thing”, “The Fly” e “Mysterious Ways” abafavam os vocais sinceros de The Edge e Bono, levando à frente os elementos abrasivos e eletrônicos que nortearam o álbum como um todo
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É claro que nem tudo foi radicalismo nessa fase. Por sinal, o que levou a banda a seguir no projeto foi o nascimento de uma balada que se tornaria uma das assinaturas definitivas do U2. “One” foi determinante para que Bono, The Edge, Larry e Adam tivessem a certeza de que poderiam seguir enquanto um grupo. Apesar de tudo, “One” não é uma canção fácil, mas sim aberta a múltiplas interpretações.

“É uma canção sobre a união, mas não a velha ideia hippie de ‘vamos todos viver juntos’. É, de fato, o oposto. É dizer, somos um, mas nós não somos os mesmos. É um lembrete de que não temos escolha”, definiu Bono. Já o guitarrista The Edge a descreveu em um nível como “amarga e retorcida conversa vitriólica entre duas pessoas que já passaram por coisas desagradáveis e pesadas”.

A banda foi informada por muitos fãs que a canção foi tocada em muitos casamentos, o que levou Bono a responder: “Vocês estão loucos? A música trata sobre divisão!”. Algumas correntes defendem que a canção é uma conversa entre pai e seu filho homossexual com HIV positivo. Enfim, existem teorias e teorias sobre o clássico absoluto do álbum.
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Acima de definições quaisquer, o álbum abriu uma década de experimentações para o U2, que desembocaria em trabalhos similarmente ambiciosos (e nem sempre tão bem sucedidos) como “Zooropa” (1993) e “Pop” (1997).

“Achtung Baby” estreou como número 1 em praticamente todos os países do planeta. Em vendas, só perde para “The Joshua Tree”, e ainda assim já teve nada menos que 18 milhões de cópias vendidas. O legado deste disco foi selado desde o início. O trabalho mais revolucionário do U2 se tornou uma experiência libertadora para a banda, os livrando das amarras do passado e escancarando as portas de um futuro promissor.

E isso porque nem avançamos no tempo para falarmos dos frutos que o álbum gerou. A revolução tecnológica da “Zoo TVTour” renderia um outro capítulo dessa história.


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