Bono revela os segredos por trás do lançamento surpresa do disco do U2

O U2 surpreendeu o mundo nesta terça-feira, 9, ao lançar Songs of Innocence, o primeiro disco da banda em cinco anos, como um presente da Apple, disponibilizando-o imediatamente e gratuitamente para qualquer um que tivesse uma conta no iTunes (leia aqui). A banda fez o anúncio ao lado de Tim Cook, presidente da Apple, na conferência de imprensa em Cupertino, na qual a empresa anunciava o iPhone 6, após cativar todos os olhares (e ouvidos) ao apresentar o primeiro single do disco, “The Miracle (of Joey Ramone)”. Depois da ovação, Cook disse: “Não foi o mais inacreditável single que você já ouviu? Nós amaríamos ouvir um disco inteiro disso.”
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“A questão agora é: como chegar ao maior número de pessoas possível, porque é disso que nossa banda é feita”, disse Bono, que continuou: “Eu acredito que vocês possuem meio bilhão de pessoas cadastradas no iTunes. Então, você poderia levar isso a eles?” “Você quer dar de graça?”, respondeu Cook. Cinco segundos depois, o disco chegou - foi o maior lançamento de álbum de todos os tempos.

“Nós queríamos fazer um disco bastante pessoal”, disse Bono a Gus Wenner, da Rolling Stone EUA, antes da conferência, em uma entrevista exclusiva. “Vamos tentar entender porque queríamos estar em uma banda, os relacionamentos ao redor da banda, nossas amizades, nossos amores, nossa família. Todo o disco é sobre essas primeiras jornadas – primeiras viagens geograficamente falando, espiritual, sexual. E é difícil. Mas nós conseguimos passar por isso.”

O grupo trabalhou em Innocence ao longo de dois anos com o produtor Danger Mouse (como é conhecido Brian Burton), e então trouxe uma ajuda adicional: Flood, colaborador da banda desde The Joshua Tree (1987), e dos produtores Paul Epworth e Ryan Tedder, da cantora Adele. “Acho que tê-los por perto realmente ajudou”, disse Bono. “Algumas dessas músicas que estão por aí são chamadas de pop, mas não é pop – e isso é realmente o máximo. Nós queremos ter disciplina dos Beatles e dos Stones nos anos 1960, quando você tinha músicas de verdade. Não há lugar para se esconder nelas: pensamentos e melodias claros.”

Para começar, a banda voltou para as suas raízes: Bono diz que o grupo ouviu as músicas que eles amavam nos anos 1970, de punk rock a Bowie, glam rock, começo da eletrônica e Joy Division. O disco tem início com “The Miracle (of Joey Ramone)”, uma música pop com leves toques punk nos acordes. “Eu encontrei a minha voz através do Joey Ramone”, diz Bono. “Eu não era como um cantor de punk comum, ou mesmo um cantor de rock. Eu cantava como uma garota – algo que agora eu compreendo, mas quando tinha 17 ou 18 anos, não tinha tanta certeza disso. Eu ouvi Joey Ramone, que cantava como uma garota, e vi que era uma forma de me adequar.”

A reggaeira “This Is Where You Can Reach Me Now” é um tributo ao The Clash, com as guitarras de The Edge se aproximando do que ouvimos em Sandinista!. “Depois que conhecemos o Clash, foi como o início do que seria o U2”, conta Bono. “Nós sabíamos que não havia a possibilidade de sermos tão legais como eles, o que provou ser verdadeiro, mas nós sabíamos que poderíamos nos aproximar desta parte de justiça social.”

Há também uma música bastante intensa e pessoal sobre a mãe de Bono, Iris Hewson, que morreu quando ele tinha 14 anos. “Quarenta anos atrás, minhas mãe desabou no funeral do pai dela e nunca mais consegui falar com ela”, disse ele. “Raiva sempre vem depois do luto e eu tive muito disso. E ainda tenho. Mas eu canalizei isso para a música e ainda o faço. Tenho poucas memórias sobre a minha mãe, mas eu as coloquei em uma música chamada ‘Iris’”.

A faixa mais alegre de Songs of Innocence é “California (There Is No End to Love)”, que emula Beach Boys na introdução. “É como o próprio sol”, disse Bono. “É sobre a nossa primeira viagem a Los Angeles.” A faixa mais sombria é “Raised by Wolves”, que conta a história de um carro-bomba em Dublin, na Irlanda. “É um incidente real que aconteceu no nossos país, quando três carros-bombas foram disparados em Dublin ao mesmo tempo em uma sexta-feira, às 17h30”, diz Bono. “Em qualquer outra sexta-feira, eu estaria em uma loja de discos bem próximo de lá, mas eu fui de bicicleta para a escola naquele dia.”

Em alguns momentos, Songs of Innocence soa como um disco conceitual dos primeiros anos de vida de Bono – há ainda uma faixa que leva o nome da rua na qual o cantor cresceu, “Cedarwood Road”. “É apenas uma coesão lírica que eu acho única nos discos do U2”, diz Bono. “Eu não quero que seja como um disco conceitual, mas as músicas vêm de um lugar. Edge brincou e disse que esse é o nosso Quadrophenia. Não poderíamos ser mais sortudos.”


Fonte: Rolling Stone

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