Tradução do livro “U2 Show” – Parte 20 (Final)

No capítulo final, GAVIN FRIDAY, amigo de longa data da banda, conta um pouco da história deles, dos integrantes do U2 e do Virgin Prunes, e de como essa amizade entre eles se construiu e perpetuou.
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"Eu conheço o Bono há mais de 30 anos, e o U2 há uns 28. Nós até tocamos juntos algumas vezes. A primeira performance da minha banda, The Virgin Prunes, foi com o Guggi, outro cantor (e agora artista plástico), acompanhado pelo U2 incógnito. Nós então nos desenvolvemos como músicos - alguns deles formaram uma banda excelente chamada The Hype. Dick, o irmão mais velho do Edge, virou nosso guitarrista principal. Um dos primeiros lugares em que o U2 tocou regularmente foi o Hotel Sutton. Eles tinham que tocar por 1 1/2 ou 2 horas, isso na época em que eles estavam começando a compor material próprio, mas ainda tocavam muitas versões cover. Às vezes, o Bono ficava cansado, e então eu entrava no lugar dele, cantava 2 ou 3 músicas e então Bono voltava. Havia uma música que as duas bandas escreveram juntas, e que se chamava Sad, mas nunca foi gravada. Nós tocávamos uma versão dela, e o U2 também tocava a versão deles, e ocasionalmente o Guggi cantava com eles, e da mesma forma às vezes o Bono cantava conosco. O processo criativo entre nós ainda é interligado, e até mais do que era. Não há gravação que eu faça ou que eles façam sem que um ou outro de nós opinemos a respeito, porque nos entendemos e conhecemos uns aos outros muito bem.”
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Quando nossas bandas se formaram, no final dos anos 70/começo dos 80, do meu ponto de vista o que eu fazia musicalmente era muito mais controvertido e de vanguarda do que o puro rock´n´roll. Os Virgin Prunes era uma banda punk que fazia performances vanguardistas. Eu fiz parte do movimento punk de Dublin. Antes do punk, o rock´n´roll era coisa de elite na Irlanda. A ênfase era toda na música tradicional e nas show bands, e a única referência ao rock´n´roll era o Van Morrison. Com o advento do punk, chegaram os Radiators From Space e os Boontown Rats. As bandas jovens da nossa geração eram o U2, The Virgin Prunes, The Blades, e era muito difícil conseguir local pra tocar. Não havia lugares adequados para shows. O país era muito conservador. Um dos lugares de mente mais aberta ficava do outro lado da rua: o Projects Arts Center, dirigido pelo Jim Sheridan, o cineasta. Ele era bem receptivo às bandas punk. Os outros lugares eram as universidades - Trinity College e University College Dublin. Havia um lugar chamado McGonagles, que ficou famoso como palco de shows de punk rock, e outro, o Dandelion Market, que não existe mais. O U2 e Paul McGuinness tiveram a idéia de tocar aos sábados no Dandelion Market. Esses shows acabaram sendo lendários para o U2. O Virgin Prunes nunca tocou lá, no entanto. Nós éramos vanguarda demais. Nós assustaríamos o público local, e eu não estava interessado em apelo de massas.”
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“Antes que nossas bandas existissem, no entanto, nós todos éramos amigos. Crescemos na mesma rua, e aos 13 ou 14 anos, nossso grande amor era pela música, e não pelo futebol que a maioria dos adolescentes amava na época. Nós falávamos sobre coisas ridículas, como formar bandas e fazer filmes. Sonhos e ambições de adolescentes. Nós éramos crianças muito determinadas. Quando o punk rock apareceu, trouxe pra nós algo interessante, nos deu licença pra formar bandas. Antes disso, eu sentia que era preciso quase ter um diploma pra formar uma banda. Antes do punk, havia um certo misticismo, "veja só, Eric Clapton é um gênio", como se o cara fosse de outro planeta. Mas o punk rock tinhas raízes nuas, tudo o que você precisava saber eram 3 acordes, e pra nós isso era algo como "Jesus! Nós podemos fazer isso!" Nós costumávamos compartilhar ensaios e equipamentos. Grandes amigos virando bandas de rock - uma comunidade unida. Nós ainda temos um grupo de 20 ou 30 amigos que andam juntos. Fica ainda maior quando você junta as namoradas, esposas e filhos. É como uma tribo. E é algo cultural também.”
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Nós todos começamos a viajar ainda muito jovens. Quando o U2 conseguiu seu contrato com a gravadora em 1980 e começou a excursionar pelos Estados Unidos, o Virgin Prunes começou a excursionar pela Europa, e então perdemos o contato que tínhamos como quando éramos vizinhos e colegas de escola. Essas viagens nos mantiveram no mesmo barco, porém com escalas muito diferentes sobre onde queríamos chegar. Você voltava depois de 6 meses na estrada, e tinha a oportunidade de compartilhar todas essas experiências. Bono é como um irmão pra mim. Ele e Guggi são os meus melhores amigos."


A importância do U2 para a história da música

"A influência do U2 é algo extraordinário, porque eles estão juntos há muito tempo. Eles estão no mesmo nível dos Beatles e Rolling Stones, e ainda não acabou pra eles. O que o Bono tem feito como pessoa é também extraordinário. E isso replica na banda. Você não pode separar, nas verdade. O que eles fizeram, musicalmente falando, nos últimos 3 ou 4 anos é incrível. A verdadeira mudança aconteceu quando eles se reinventaram no começo dos anos 90. E se transformou em algo profundo, porque o que eles fizeram com a Zoo TV, Zooropa e, acredite ou não, com a PopMart, vai durar por muito tempo. Eles transformaram o rock de arena completamente, porque o rock de arena havia ficado muito preguiçoso ultimamente. Só o que interessava é vender ingressos, mas eles na verdade trouxeram estética e emoção, paródia e entretenimento, e transformaram tudo. Eles trouxeram a arte para a música, e tiveram uma ótima equipe para ajudá-los a fazer isso. Isso mudou o rumo da história da música e das turnês, e é único. A PopMart estava dois passos à frente, especialmente, do ponto de vista norte-americano. Há certas coisas culturais que não mudam. O U2 se alimentou da cultura dance do meio dos anos 90, que era na verdade euforia do fim dos anos 80 na Europa. Tinha uma sensibilidade europeia. A aparência deles e o álbum Pop foram influenciados por isso. Os americanos só agora é que estão entendendo isso. Então, naquela época, nos Estados Unidos, eu acho que foi algo tipo "Mas que diabos é isso???", musical e visualmente falando. E aquele telão...uau, isso foi algo grande, isso foi corajoso, extraordinário. Eu acho que o fato de o Bono ter cortado o cabelo e usado roupa de super herói foi um passo longe demais para os ianques. Eles ainda estavam com Zooropa na cabeça. Mas o U2 continuou forçando a barra. Depois do estrondoso sucesso de The Joshua Tree, eles levaram um chute da mídia local por causa do Rattle & Hum. Depois do Achtung Baby, eles ficaram mal falados por lá por causa do Pop. Foi um chute semelhante. Mas eu acho que o que eles fizeram com o Pop foi muito mais radical do que o Rattle & Hum. Rattle & Hum foi tirar o chapéu para as lendas do rock e blues, sabe, como BB King e os grandes compositores, o livro da história do rock´n´roll, de volta ao Sun Studios. Pop e a PopMart olharam para a frente, adiante no tempo. Às vezes os americanos não gostam de olhar à frente rápido demais...”
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“Eles são incrivelmente éticos, e têm incrível seriedade e determinação no que fazem, e sempre tentam se superar artisticamente. Há também muito humor e paródia. Uma das pessoas mais engraçadas que se pode conhecer é o Bono, acredite ou não. Ele é um pouco um demônio, a seu modo. Ele é muito descolado e esperto. Você pode fazer negócios com ele, mas também pode se divertir muito. Eu acho que a Zoo TV e a PopMart mostraram que havia humor. Eles não dão nada por certo e garantido. Eu tenho uma teoria na minha cabeça: o dia em que você chegar e começar a produzir um álbum sem o mesmo entusiasmo e os mesmos medos de quando você tinha 18 anos e entrou pela primeira vez num estúdio, então há algo muito errado. A questão toda é: nunca se acomodar com os louros da fama, nunca dar as coisas por certas e garantidas, e então se deixar levar por isso na verdade. E muita gente age assim. Ele dizem "Já ganhei bastante dinheiro, sou muito bem sucedido". Mas não é o dinheiro que conta. O trabalho ético é enorme, mas nós aproveitamos a vida, não ficamos sentados resmungando. Eu acho que tem muito a ver com o jeito dublinense de ser, sensato e realista."



Os Beatles e o U2

"Os Beatles vieram de Liverpool, e Liverpool é basicamente outro subúrbio de Dublin, só que do outro lado do rio. Uma coisa que os Beatles tinham eram uma certa dose de "irlandesidade" - especialmente John Lennon. Acredite, o U2 tem muita tenacidade enraizada."




Tradução: Maria Teresa

Leia a Parte 19.


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